Débora Rubin
São Paulo – A natureza, por ali, é generosa. Tem cerrado, um pouquinho de floresta amazônica e 35% do pantanal. Madeira não falta. Tampouco criatividade. Os moveleiros do estado do Mato Grosso querem buscar nos materiais alternativos a solução para seu mercado. Com dois pólos fortes, um em Cuiabá e Várzea Grande e outro formado por Alta Floresta, Sinop e Lucas do Rio Verde, os empresários do setor lutam por um lugar ao sol.
Isso porque, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) local, 80% dos móveis consumidos no estado vêm de fora. Por outro lado, exportar ainda é um problema, já que os custos são altos e os portos distantes. Das quase 400 empresas do pólo de Cuiabá, só quatro exportam. A solução, acreditam eles, é fazer um móvel com uma cara mais típica, com um toque exótico.
Segundo Hamilton Leitão, gestor do Arranjo Produtivo Local (APL) de Cuiabá e Várzea Grande, a riqueza de materiais alternativos é extensa. Há cipós, raízes, couro de boi, de jacaré, chifre e ossos. Em maio, Leitão esteve na Feira Internacional de Móveis para o Lar, em High Point, Carolina do Norte (EUA) com doze empresários mato-grossenses. Além de perceber o quanto os norte-americanos gostam de móveis pesados, com madeira maciça, eles viram que o uso desses materiais alternativos faz o maior sucesso por lá. "Os empresários se animaram", conta. "Afinal, matéria-prima nós temos."
O empresário Fernando Ávila, da Odorata Móveis, já utiliza alguns desses materiais. Em sua fábrica, ele agrega artesanato às peças, além de usar fibras, sementes e trabalhar com a madeira Teca, árvore de origem asiática que se adaptou bem ao cerrado brasileiro. "As empresas daqui estão se reorganizando para formar um pólo forte e ganhar o mercado nacional e internacional", diz Ávila, que também faz parte do Sindmóvel, sindicato que reúne as empresas do setor na região. Segundo ele, fazer móvel com características típicas é a aposta para entrar no mercado externo e, quem sabe um dia, brigar com a gigante China.
Consciência ambiental
O trabalho do Sebrae no Mato Grosso é apoiar o desenvolvimento sustentável. No estado, apesar do forte uso de madeiras de reflorestamento, ainda há muita derrubada ilegal. "Aqui é um lugar muito isolado, de área extensa, e a fiscalização chegou recentemente. Controlar a extração de árvores ilegais ainda é um movimento complicado", explica Leitão, do Sebrae. No pólo de Cuiabá, predominam as madeiras MDF, laminados e aglomerados. Em Alta Floresta e região, prevalecem os móveis com madeira maciça.
O trabalho do Sebrae ainda atinge poucas empresas, 116 das 400 de Cuiabá e Várzea Grande. Com elas, é feito um trabalho de gestão empresarial, financeira, marketing e design. Além disso, esse grupo, que vem sendo trabalhado desde 2003, participa de feiras nacionais e internacionais para buscar novas idéias, novos mercados e fazer do pólo moveleiro um ponto expressivo da produção de móveis do país.
Contatos:
Sebrae Mato Grosso
+55 (65) 3648-1262
Odorata Móveis
+55 (65) 3623-7880